Renée Pereira – Jornal O Estado de São Paulo – SP. 04/10/2012
Tudo começou há sete anos, com uma fórmula que prometia transformar lodo em fertilizantes. A receita não deu certo, mas a ideia foi adiante. Depois de cinco anos de estudos e R$ 30 milhões de investimentos em pesquisa e desenvolvimento, o empresário Olavo Monteiro de Carvalho, dono da Geociclo, conseguiu encontrar a chave para converter resíduos sólidos orgânicos em fertilizantes, que pode elevar em até 64% a produtividade da safra agrícola.
A primeira fábrica começou a operar recentemente e outras 10 ou 15 já são planejadas para os próximos anos. “Somos a primeira empresa a produzir esse tipo de insumo em larga escala no mundo.”, afirma Monteiro de Carvalho, também presidente do conselho do grupo Monteiro Aranha, acionista da Klabin e Ultrapar. A Geociclo é um projeto à parte dos negócios da família, que trouxe a Volkswagen para o País. Antes de apostar em adubo, o empresário já se aventurava em outras áreas, como a de saneamento. Era dele a empresa Ecoaqua, vendida para a Odebrecht.
Nessa época, ele já começou a apostar na criação da Geociclo, que hoje tem 14 investidores interessados em se tornar sócios. A fórmula desenvolvida pela empresa permite transformar resíduos de diferentes tipos de indústrias em fertilizantes. Mas, a princípio, a empresa usará a “torta de filtro de
cana”, um subproduto obtido na fabricação do açúcar, e a cama de frango – espécie de forro que serve para absorver a urina e as fezes das aves.
É o caso da primeira unidade, inaugurada em Uberlândia (MG), que usa resíduos de cana de açúcar. A fábrica foi planejada em duas etapas, com capacidade de 100 mil toneladas de fertilizantes. No primeiro ciclo, serão produzidas 50 mil toneladas, sendo que metade já está totalmente contratada com o próprio fornecedor da matéria-prima.
O cliente entrega os resíduos e recompra o fertilizante. O preço é semelhante ao do produto tradicional comercializado no mercado, mas a produtividade aumenta 21% no caso da cana, segundo os testes feitos
pela empresa em parceria com a Universidade Federal de Uberlândia, a Epamig e a Emater.
No caso da soja, o ganho chega a 64%. “Na minha área, apesar da forte seca dos últimos meses, percebi uma diferença grande da plantação com esse fertilizante (organomineral) e com o tradicional. É visível o efeito do produto”, afirmou o produtor de soja, Oswaldo Alani.
A aceitação no mercado tem incentivado fornecedores de resíduos orgânicos a negociar acordos com a empresa. Até agora, 13 contratos estão sendo estudados, o que permite à empresa planejar a próxima fábrica. Será em Goianésia (GO). A unidade, prevista para entrar em operação em 2014, terá o mesmo formato, capacidade e investimentos da de Uberlândia, que custará R$ 25 milhões na primeira fase e mais de R$ 14 milhões na segunda.
Toda produção da primeira fase da usina – 50 mil toneladas – atenderá duas usinas do Grupo Otávio Lage, que fornecerá a matéria-prima para o fertilizante. As outras 15 unidades ainda não tem local definido, mas deverão ser construídas nos Estados de Minas, São Paulo e Mato Grosso, afirma o presidente executivo da Geociclo, Ernani Judice.
Mas a construção das unidades dependerá da entrada de um novo sócio. Considerando que cada planta demanda R$ 39 milhões (R$ 25 milhões da primeira fase e R$ 14 milhões, da segunda) de investimentos, a empresa precisará de R$ 585 milhões para executar o plano. Segundo Monteiro de Carvalho, há muitos interessados, entre fundos de private equity e outros investidores.
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